Para o padre católico Juan Solana, foi o equivalente espiritual a descobrir uma jazida de petróleo.
Quando ele começou a construir um hotel para peregrinos cristãos na Galileia, desencavou a suposta cidade natal de Maria Madalena e uma antiga sinagoga onde os especialistas dizem que Jesus pode muito bem ter passado seus ensinamentos.
Rina Castelnuovo/The New York Times | ||
Funcionário limpa mosaicos ornamentados no sítio arqueológico de Migdal, em Israel |
Solana, diretor do Instituto Pontifício Centro Notre Dame de Jerusalém, que oferece acomodações para os peregrinos cristãos, pensou em construir uma instalação semelhante no lugar onde a Bíblia diz ter ocorrido a maior parte da pregação e dos milagres de Jesus.
Terrenos foram adquiridos na costa noroeste do mar da Galileia, perto do local apontado como sendo o da antiga cidade de Magdala, de onde, a julgar pelo nome, era originária Maria Madalena, uma das mais fiéis seguidoras de Cristo.
O plano do padre Solana era demolir o velho resort Hawaii Beach, construído no local na década de 1960, e erguer um hotel para 300 pessoas, um restaurante e um centro de oração e contemplação. Os alvarás de construção saíram em 2009.
Antes que as obras pudessem começar, faltava apenas realizar uma escavação arqueológica no local. A Igreja Católica e os arqueólogos enviados pela Autoridade de Antiguidades de Israel não esperavam encontrar nada de significativo no terreno.
Mas as suas pás atingiram a história menos de meio metro abaixo da superfície: um banco de pedra que, logo ficou evidente, era parte dos restos de uma sinagoga do século 1°., uma entre apenas sete sabidamente existentes do período do Segundo Templo, e a primeira a ser encontrada na região da Galileia.
Uma moeda foi datada do ano 29 -quando Jesus supostamente estava vivo. Logo ficou claro que o local era Magdala.
A escavação revelou um mercado e uma área separada de cômodos com tanques adjacentes, presumivelmente utilizados para salgar e secar peixes; uma casa grande ou edifício público com mosaicos, afrescos e três banhos rituais; uma colônia de pescadores; e um trecho de um porto do século 1°.
A descoberta obrigou a uma mudança no projeto de construção, de forma a incorporá-la. O novo centro espiritual já foi concluído, com um altar em forma de barco que combina com uma vista para o porto e para o mar da Galileia.
"Jesus costumava pregar às multidões do barco de Pedro, então tentamos reproduzir essa ideia aqui", disse o padre Solana.
A sinagoga tinha características incomuns, incluindo um bloco de pedra que os arqueólogos dizem ter provavelmente sido usado como mesa para a leitura da Torá, o livro sagrado judaico.
Está entalhada com colunas e arcos, uma menorá de sete braços e carruagens de fogo. A pedra parece ser uma miniatura do Segundo Templo, em Jerusalém, que foi destruído no ano 70.
Arfan Najar, um dos administradores da escavação de Magdala, disse que todas as pedras lá encontradas eram do século 1°. "É a janela que estava faltando", disse ele. "Jesus na Galileia."
Rina Castelnuovo/The New York Times | ||
Piso ornamentado no sítio arqueológico de Migdal, em Israel, onde porto e sinagoga foram encontrados |